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  • Foto do escritorMiguel Dias

Interfaces à transmissão e spillover do coronavírus entre florestas e cidades, Parte 2.

O coronavírus nas pandemias deste milênio

Neste início de milênio já há registros de ao menos 66 grandes eventos epidêmicos (lista de Epidemias, 2020), a vasta maioria dos casos por dengue, cólera e ebola, ocorrendo predominantemente em países africanos e asiáticos. Nas duas primeiras décadas, destacam-se seis grandes pandemias que geraram alto número de mortes: (1) Em 2002, a Sars-CoV-1 na China, espalhando-se por 29 países e contaminando mais de oito mil pessoas, levando à morte cerca de 800; (2) Em 2009, a Influenza H1N1 que espalhou-se por 214 países contaminando bilhões, estima-se ter causado mais de 200 mil mortes; (3) Em 2012, a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers-CoV) na Arábia Saudita, espalhando por 24 países e contaminando mais de 2.500 pessoas, com 862 mortes registradas; (4) Em 2013, uma grande epidemia de ebola ocorreu no oeste africano, espalhando-se por dez países e contaminando mais de 28 mil pessoas e gerando 11 mil mortes; (5) Em 2015, o início da zika foi percebido pelo aumento drástico de casos de microcefalia em recém-nascidos, com casos de transmissão em 87 países (who-Diseases, 2020). Só no Brasil, 3.474 casos foram confirmados com 402 óbitos fetais e neonatais associados (MS-ZKV, 2020); (6) E em novembro 2019 inicia-se a terceira epidemia de coronavírus: a Covid-19. Tornando-se a maior e pior epidemia de coronavírus da história humana, e a mais mortal dos últimos cem anos. Expandiu-se por praticamente toda a superfície terrestre habitada, exceto dez pequenas ilhas e a ausência de registros de dois países continentais (McCarthy, 2020).

A Covid-19 está em plena expansão, e ainda poderá levar muitos meses ou anos para ser controlada. Cenários mais otimistas sugerem que o número de mortos ao longo de toda epidemia não ultrapassará um milhão (BBC-News, 2020); já cenários de inação contra a doença sugerem a possibilidade de mortes na ordem de 40 milhões (Graham et al., 2020); e os mais pessimistas estimam números maiores que 100 milhões (EIU, 2020; Rajgor et al., 2020). Se o cenário mais pessimista se realizar, a Covid-19 estará entre as piores pandemias da história humana, junto com a peste negra (1346-1353; 75-200 milhões), a praga justiniana (541-542; 25 milhões) e a gripe espanhola (1918-1920; 20-50 milhões).

A família Coronaviridae possui quatro gêneros (α, β, γ e δ-coronavirus), mas apenas o alfa e o betacoronavírus causam doenças humanas por meio de sete cepas virais, das quais quatro causam doenças há muito tempo na humanidade, mas atualmente resultam em apenas sintomas leves (Corman et al., 2018). Entretanto, três cepas mais recentes causam doenças graves e alta mortalidade: a Mers-CoV; a Sars-CoV-1; e, agora, a Sars-CoV-2.

A cepa Sars-CoV-1 é causadora da doença Severe Acute Respiratory Syndrome (Sars), e as pesquisas indicaram que transbordou do morcego a um pequeno mamífero silvestre, a civeta (Paguma larvata), e delas para os humanos. No caso da Middle East Respiratory Syndrome (Mers), que é a forma mais letal de doença humana por coronavírus, o camelo foi apontado como hospedeiro intermediário que transbordou coronavírus aos humanos (Mers-CoV) também a partir de cepa de morcegos. Tanto na epidemia de Sars (Sars-CoV-1) como na Covid-19 (Sars-CoV-2), o comércio ilegal e o consumo de animais silvestres estão associados aos fatores que as desencadearam.

Ainda há grande discussão sobre o papel do pangolim como hospedeiro intermediário na transmissão de coronavírus aos humanos, mas ainda não há explicação alternativa mais robusta ou evidências refutando esta hipótese (Zhang et al., 2020; Xiao et al., 2020). A similaridade genética total entre Sars-CoV-2 e cepa viral identificada no pangolim (Pangolim-CoV) é de 90,3%, valor que pode ser considerado alto, mas não determinante (Cyranoski, 2020). O que se tem segurança para afirmar até o momento é que todas as pandemias de coronavírus tiveram origem zoonótica de morcegos e aconteceram nos últimos vinte anos, representando metade das maiores e mais letais pandemias do milênio. Existe aparente processo de consolidação da circulação de cepas de coronavírus na sociedade humana, e o grande alcance da Covid-19 está gerando o risco de torná-la endêmica.


Guilherme Henrique Saúde é Vital.


Recopilado da rede para os seguidores do CCM, o Canal de Crissiumal.


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